UMA DOSE DE RACISMO DIÁRIO?: NOTAS SOBRE O RACISMO ESTRUTURAL NA SOCIEDADE BRASILEIRA

Luciana Railza Cunha Alves

Nº9, 13 de Fevereiro de 2025

No Brasil, hora ou outra, voltamos a debater sobre o mesmo assunto “o racismo de cada dia”. Algumas vezes, o assunto parece ser repetitivo, cansativo ou pode ser entendido como o assunto que é “melhor não falar” ou que “já foi superado”. No entanto, assistimos diariamente episódios que nos levam a debater e combater o assunto de frente. 

O racismo estrutural no Brasil é um problema que atravessa séculos de história, e suas diversas manifestações atingem especialmente as mulheres negras, que enfrentam uma interseção de opressões: o sexismo e racismo. Isto no país que se orgulha da diversidade racial, mas o que temos é uma realidade social vivida marcada por invisibilidade, violência e desigualdade.

Segundo Lélia Gonzalez (2020, p. 169) “O racismo, enquanto construção ideológica e um conjunto de práticas, passou por um processo de perpetuação e reforço após a abolição da escravatura, na medida em que beneficiou e beneficia determinados interesses”. Historicamente, as mulheres negras escravizadas estiveram associadas a trabalhos desvalorizados, como as amas de leite, afazeres domésticos etc. A escravidão a brasileira, ao contrário do que se pensa não acabou com a abolição formal em 1888. Ela apenas se reconfigurou, continuando a submeter, principalmente, as mulheres negras a um sistema de pobreza, exclusão e exploração. 

Dessa maneira, o racismo no Brasil, embora muitas vezes dissimulado, se expressa na vida cotidiana de diversas formas, seja nas expressões: “A coisa tá preta”, “denegrir” “não sou tuas negas” “Cabelo ruim”, “Cabelo de Bombril”, “Cabelo duro”, seja na exclusão e invisibilidade. As mulheres negras são mais vulneráveis à violência física e sexual, à exclusão no mercado de trabalho e à marginalização nas esferas educacional e política. 

Dados do projeto “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça” do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), “em 2022, a renda das pessoas brancas era em média 87% maior que a renda das pessoas negras”. Já na “edição do Atlas da Violência, publicação anual do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que a taxa de homicídios para mulheres negras cresceu no país 0,5% entre 2020 e 2021” (Rodrigues, 2023). 

De acordo com os dados, uma mulher negra tem mais chances de ser assassinada do que uma mulher branca. Além disso, elas enfrentam maiores dificuldades para ingressar em universidades, considerando as condições econômicas e outro fator que ainda precisa lidar é com a falta de representatividade, afastando-as desse universo.

Neste contexto, temos intelectuais negras importantes que têm dado visibilidade não somente à questão racial, mas também aos espaços de visibilidade e principalmente a desconstrução de um sistema que as marginaliza e as desumaniza, como a filosofa e ativista Lélia Gonzalez, Djamila Ribeiro, a escritora e socióloga Sueli Carneiro, a doutora em Ciência Política Ana Claudia Jaquetto Pereira, a psicanalista Neusa Santos Souza dentre outras. Portanto, a luta das mulheres negras não se limita ao combate ao racismo, mas também à desconstrução de uma sociedade patriarcal e desigual. 

Referências 

Gonzalez, Lélia. 2020. Por um Feminismo Afro-Latino-Americano: Ensaios, Intervenções e Diálogos. Rio Janeiro: Zahar. 375 pp.

Ipea. Projeto Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça. 2025. Disponível: https://www.ipea.gov.br/portal/retrato?fbclid=PAZXh0bgNhZW0CMTEAAaZRgbhSmAd55HMWr6his5V1eGcbONQ99Qrz9a0PMNWMEGqw4u_v4VDgQsg_aem_PBd1lOBF8LcfmfsUwbRfSA

Portal Geledés. 13 expressões racistas que precisam sair do seu vocabulário. 2016. Disponível: https://www.geledes.org.br/13-expressoes-racistas-que-precisam-sair-do-seu-vocabulario/

Rodrigues, Léo. Homicídios crescem para mulheres negras e caem para não negras: É o que revela pesquisa do Ipea. 2023. Disponível: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-12/homicidios-crescem-para-mulheres-negras-e-caem-para-nao-negras#:~:text=A%20nova%20edi%C3%A7%C3%A3o%20do%20Atlas,incluem%20brancas%2C%20amarelas%20e%20ind%C3%ADgenas. Acesso: 12 de fevereiro de 2025.

Quem sou eu

Doutora em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia na Universidade Federal do Pará. Mestre em Cartografia Social e Política da Amazônia pela Universidade Estadual do Maranhão (2013-2015), com habilitação em Ciência Política. Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão. Tem experiência na área de Antropologia e Política das Populações Afro-brasileira e Povos e Comunidades Tradicionais. Pesquisadora do GESEA- Grupo de estudo socioeconômico da Amazônia- UEMA do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia/Maranhão. Membro do Grupo de Estudos Amazônicos e Ambientais – GEAM/UFF e colaboradora externa no Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas, do IFMA/ Campus Centro Histórico. Desde 2022 atua sou professora nas Faculdades Baixo Parnaíba, E-mail: lucianarailza@gmail.com

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