Camila Oliveira Neves*
Nº 10, 15 de Maio de 2025
No imaginário de muitas pessoas, o curso de Pedagogia está associado ao trabalho com crianças, onde o ato de brincar é visto como a principal atividade do professor. A problemática surge quando essa percepção se torna uma simplificação da profissão, resultando, muitas vezes, em um certo desprestígio em relação a essa prática. Afinal, os pedagogos(as) são menos profissionais porque “brincam” com seus alunos? Seria a brincadeira uma prática inadequada? O curso de Pedagogia ensina a brincar?
Para esclarecer essas questões, é preciso compreender alguns aspectos. O primeiro diz respeito ao motivo da escolha de brincadeiras e jogos para crianças. A resposta é simples: essas atividades lúdicas são expressões naturais da infância, permitindo que a criança se manifeste e interaja com o mundo ao seu redor. Assim, o(a) pedagogo(a) brinca com as crianças porque o brincar é a sua linguagem natural. Dessa forma, utiliza o lúdico como uma estratégia de ensino e aprendizagem, tornando o processo mais prazeroso e significativo.
Um segundo ponto é compreender que essas brincadeiras não são apenas recreativas, mas sim atividades orientadas. O brincar não ocorre de forma totalmente livre, sem uma intenção pedagógica. A criança não passa todo o tempo de aula brincando de maneira espontânea, como algumas pessoas podem imaginar. Essas atividades acontecem em momentos específicos da aula, conforme o plano de aula ou o planejamento do professor. A brincadeira acontece, mas as ações foram organizadas a partir de um objetivo pedagógico previamente estabelecido.
O curso de pedagogia não ensina a brincar. No curso de Pedagogia, o brincar e as atividades lúdicas são estudados como elementos fundamentais para o desenvolvimento infantil e a aprendizagem. A formação propõe uma problematização que abrange desde aspectos históricos até a compreensão de como as brincadeiras e os jogos contribuem para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças. Quanto a ludicidade adota-se uma perspectiva de estudo e contextualização por meio de projetos e atividades de estágio, sem um enfoque exclusivamente na realização da atividade lúdica em si.
Durante todo o curso, os acadêmicos têm a oportunidade de conhecer e se aprofundar nos estudos de teóricos que discutem essa temática, como Henri Wallon, Tizuko Morchida Kishimoto, Lev Semionovitch Vygotsky, Jean Piaget, dentre outros. Com base na psicologia do desenvolvimento, esses autores enfatizam o crescimento infantil por meio das interações entre o corpo, a emoção e o meio social. Dentre uma série de aspectos, destaca-se que o brincar permite que as crianças expressem suas emoções, lidem com conflitos internos, desenvolvam a coordenação motora e a percepção espacial, além de aprenderem sobre respeito ao coletivo, partilha, cooperação e cumprimento de regras. Além disso, o brincar estimula a imaginação, a criatividade e o pensamento abstrato, tornando-se uma ferramenta essencial para o desenvolvimento integral da criança.
É importante destacar também que o direito ao brincar está presente em diversos documentos nacionais e internacionais no âmbito educacional. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) são exemplos dessa natureza, pois reconhecem a brincadeira como uma forma de aprendizagem, desenvolvimento e interação social, reforçando sua importância no cotidiano escolar. Assim, garantir espaços e tempos adequados para o brincar é uma responsabilidade essencial para a promoção do desenvolvimento integral das crianças.
Com isso, é possível perceber que brincar é uma atividade saudável e essencial, sendo respaldada tanto por princípios teóricos da psicologia quanto por bases legais. Brincar é coisa séria! Afinal, proporciona experiências ricas de aprendizado e interação. Será que você “brincou de verdade’’ na sua infância? Para sermos sujeitos ativos, é necessário pular e dançar um pouco. Vem brincar com a gente!
REFERÊNCIAS
KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e educação. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2017.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 10. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2019.
WALLON, H. A evolução psicológica da criança. 10. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2019.
QUEM SOU EU?
Pedagoga, Especialização em Tutoria em Educação a Distância, Mestra em Educação. Atualmente é doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Piauí.Possui experiência na área de Educação, com ênfase em Estágio Supervisionado, Projetos Interdisciplinares, Diversidade, Educação e Currículo.